Águas Claras via Brahma

Larissa, Leticia, Clarissa...

Ontem, em um percurso pequeno de 6 km da via principal de meu bairro até a minha casa, aconteceu algo muito interessante, nesse pequeno espaço de tempo em que me encontrava dentro do veiculo de transporte público (lotação) que faz o meu itinerário que é Águas Claras via Brahma, alias os nomes de ruas e condomínios nesse bairro possuem significados expressivos, nesse caso para mim o significado fica assim águas límpidas que purificam a alma e a matéria levai-nos ao deus da criação. (Brahma no hinduísmo é o Deus da criação).

Acomodei-me, em um banco, após pedir um favor ao motorista, que prontamente me atendeu, e derepente uma mão nervosa cutucou meu ombro, me virei para o banco de trás e quando a vi, imediatamente ela puxou assunto.

Falou-me, sabe estou passando pelo mesmo problema que você, e então percebi que a lotação toda havia prestado atenção enquanto eu falava com o motorista, pois se referia ao assunto que mantive com ele minutos atrás, olhei calmamente para ela observei seus traços no rosto com marcas profundas, vi registrado muitas tristezas de uma vida sofrida, sua maneira de se expressar era mais com as mãos do que com palavras, praticamente usava um linguajar próprio, olhei em seus olhos e vi algo diferente nela, alguma coisa sublime que me encantou, bom como todos estavam claramente esperando a minha resposta gentilmente disse: Como assim o mesmo problema? Rapidamente atropelando as palavras me respondeu... Minha filha também não quer mais ir à aula, pois o colega arrancou a boneca dela e dizia que não iria devolver, agora não quer mais ir.

E a partir desse momento, a conversa parecia de duas velhas conhecidas, pois eu enfrentava o mesmo problema com a minha afilhada, meu desconforto devido a má posição que me encontrava, (ela estava no banco  atrás ao meu) fez com que eu logo me virasse para ficar em uma posição no mínimo de conforto, pois a lotação começará a andar, mas se mostrou insatisfeita pela conversa ter terminado ali. E novamente me cutucou, me virei e olhei para ela e de novo vi nela algo diferente e comecei a observa-la afinal percebi que iria ficar naquela posição, e no momento pensei, são somente 6 km.

Recomeçou a conversa e logo em seguida perguntei....que idade tem a sua filha a resposta veio imediatamente com as mãos, depois falou 6 anos.

Falei: está no inicio então, mas penso que deva ir à escola falar sobre isso, para que se resolva e ela se sinta mais segura e amparada, e derepente ela abre um sorriso misturado com ternura amor e  carinho seus olhos viraram um brilho só um amor explanado de uma forma que jamais percebi em alguém,  de uma pureza divina e começou a me contar sobre a filha dela inclusive que hoje não havia ido à aula porque atrasaram o almoço pois ela se demorou demais para voltar para casa e me disse meu filho mais velho me ligou ai orientei ele falando que hoje poderiam ficar em casa pois nunca faltaram.

Fiquei olhando aquela reação de menina por simplesmente falar na filha, bom ai ela me contou o porquê do atraso, pois tinha ido ao médico o olho dela doía demais, e disse hoje estou assim com muita dor, mas que estranho, pensei, ela não expressa essa dor, pois minha mãe fez a cirurgia de catarata e eu sabia o quanto essa dor era difícil, tentei consola-la e disse  isso é só no inicio depois ficará bem, o importante é que cure , olhou para mim e disse: a vista esquerda já perdi, só tenho a direita e ainda vejo muito mal e tenho muita dor,

Calei-me!  Nada a dizer diante dessa informação

Ela voltou a sorrir e como se estivesse em êxtase quando falava de sua filha, continuou.....mas elas são muito quietinhas....ai respondi elas???

Sim, são gêmeas... Respondeu-me e fiz a conta rapidamente, e conclui tinha três filhos, um marido ausente (devido ao trabalho), tinha problemas de visão, dicção, e sem guarda chuva, pois a cada  minuto me dizia vai chover e não trouxe a sombrinha, após essa analise disse:

Poxa gêmeas que lindo! E ela me corrigiu na mesma velocidade que me surpreendi

Não são duas... São três e seus olhos criaram aquele brilho que eu já havia percebido no inicio da conversa.  

Pensei... Que olhos????

Disse rapidamente trigêmeas.

E retornei a olhar com firmeza, e então vi o que me encantava nela, seus olhos se tornaram espelhos de seu coração, e quando expressava seus sentimentos mais puros, ganhava esse encanto natural, e passava despercebido a todos que sequer ela possuía visão.

Não me contive e perguntei o nome das meninas... e me foram ditos na ordem de chegada nesse mundo...

Larissa, Leticia e Clarissa e sorriu com uma alegria explicita e sem pudores, pois falava de suas preciosidades, e que diante de todas as suas dificuldades cuidava desses três presentes divinos que lhe foi enviado.

E digo a vocês nesse trajeto de dez minutos vi uma mãe de alma soberana, e agradecida por essa dádiva que é ter filhos.

Quando se dá amor verdadeiro, reconhece os iguais a nós, pois o amor  é uma entrega sem cobranças, e sem nenhuma espera de retorno, apenas se sente e se doa.Ficou visível nessa senhora que houve um  abandono do ego  diria eu que até mesmo um suicídio do ego, e isso tornava notável o seu amor sem medo, feito de entrega pura.

E que quando de alguma maneira amamos dessa forma, nossas dores ficam pequenas e totalmente suportáveis, sem terem lugar para sequer se expressar em nossa fisionomia, porque, um rosto marcado pelas dores da jornada se apagam, diante do brilho dos olhos da alma.